sábado, 1 de agosto de 2009

On the road


The Road to Home
Amy Macdonald

Oh the leaves are falling from the trees
And the snow is coming, don't you know?
But I'll still remember which way to go
I'm on the road, the road to home

Oh the sound is fading in my ears
And I can't believe I've lasted all these years
But I'll still remember which way to go
I'm on the road, the road to home

Oh the light is fading all the time
And this life I'm in it seems to pass me by
But I'll still remember which way to go
I'm on the road, the road to home

Now I must say goodbye
Keep telling myself "now don't you cry"
But I'm here where I belong
I'll see you soon, it won't be long
I'll see you soon, it won't be long
I'll see you soon, it won't be long

___________________________________

N.A.: "Close Ward" mudou de nome e agora é "On the Road". Se, antes de se formarem, esse espaço era usado somente durante as férias de Durmstrang (e só pela Lavínia), agora ele passa também a abrigar - oficialmente - Victor e Ricard, sempre que qualquer um deles tiver algo de interessante para contar.
Nessa nova fase, cada um destes três personagens agora começarão a lidar com a vida de acordo com as escolhas que fizeram/ainda vão fazer para si próprios. Traçando seus caminhos (às vezes individuais, às vezes se cruzando com os outros), Lavínia, Victor e Ricard tentam se equilibrar, dia após dia, na sinuosa trilha do amadurecimento...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

- O que você veio fazer aqui? – Victor perguntou seco quando abriu a porta e me viu parada na soleira.
- Posso entrar?
- Você sabe que não. O que quer?
- Vim te trazer isso. – estendi um envelope para ele.
- Pode me adiantar o que é?
- São fotos do meu primeiro exame de ultra-sonografia. O bebê está bem. O nosso bebê está bem. – Falei com firmeza a última frase e ele hesitou um minuto, mas quando voltou a me encarar, parecia decidido.
- Vai embora. Não quero ver isso. Acabou, Lavínia. – começou a fechar a porta, mas eu me precipitei e o abracei com força.
- Não faz isso. Me deixa explicar. Esse bebê é seu, eu juro que nunca te trai.
- Ah, é meu? E como você explica aquele aborto, em Durmstrang? E a nossa ‘incompatibilidade’ para ter filhos?

Ele me empurrou pra longe e perguntou alterando um pouco a voz. Uma lágrima saltou do meu olho.

- Era do Naveen. Eu estava grávida do Naveen.

Disse em desesperada e olhando pra baixo. Um silêncio agonizante estava entre nós dois. Levantei a cabeça para encará-lo e ele me olhava com uma mistura de susto com mágoa. Entrou e bateu a porta com força na minha cara e me deixei desabar sozinha no corredor.


----------------

Victor caiu sentado na cama, perplexo.

- Porque não me contou antes? – ele quebrou o silêncio de vários minutos, perguntando com a voz fraca.
- Não tive coragem. A morte do seu tio, a prisão do Naveen. Foi tudo tão corrido... E, além disso, eu não sabia como contar.
- Você está bem? Quero dizer, foi um aborto... Teve alguma outra complicação?
- Não, eu estou bem. Eu só fiquei sabendo da gravidez depois de abortar.
- Um filho... – Victor disse em voz baixa e me sentei do seu lado, na cama.
- É...

Nos encaramos e ele me puxou para um abraço apertado.

- Está tudo bem mesmo, não é? Nós ainda estamos juntos?!
- É claro que estamos! – respondi assustada afundando o rosto no ombro dele. – Se lembra da promessa que me fez, ano passado, de que nunca iria me deixar... Continua de pé?
- Óbvio que sim. Estou aqui, certo? Nós vamos passar por isso, juntos. – ele puxou meu rosto para me olhar. – Eu amo você, Lavínia Durigan. Entende isso agora? – disse abrindo um sorriso que me tranqüilizou e me fez esquecer todos os outros problemas. Concordei com a cabeça também sorrindo.
- Eu também amo você, Victor Neitchez. – respondi o beijando em seguida.

----------------

A nossa estadia na Espanha, na casa da Evie, estava muito divertida. Saíamos todas as noites para animadas festas em boates ou bares. Iríamos embora em uma semana e nem acreditávamos no quanto as férias haviam passado rápido. Evie e os primos nos levaram a um pub muito agitado, em Madrid. Estávamos todos sentados na mesa, bebendo e conversando, quando um bonito rapaz moreno chegou sorridente, abraçando Evie.

- Estevan!!! – ela retribuiu o abraço, animada. – Nossa. Há quanto tempo!
- Você sumiu, Evie.
- Você também. Nunca mais te vi por aqui. Ainda em Beauxbatons? – ela perguntou em voz baixa e nos surpreendeu, pois à primeira impressão, ele parecia trouxa.
- Sim. Por pouco tempo...
- Do que está falando?
- Estamos nos formando, não é? Só falta um ano, para mim, para você... Pouco tempo. – ele respondeu dando uma piscadinha e Evie o encarou ainda sem se convencer de que ele estava sendo totalmente sincero. Se deu por vencida.
- É. Para quem já ficou seis anos, um a mais, um a menos... Sente-se conosco. Meus primos você já conhece. Essas são minhas amigas: Ludmilla, Lavínia e Nina. Estudam comigo.

Ele cumprimentou todos da mesa com apertos de mão e se parou um pouco mais no de Nina. Ficaram se encarando uns segundos, até ela abaixar os olhos constrangida. Eu, Evie e Milla trocamos olhares divertidos. Estevan se sentou entre Evie e Nina.

- Estudam com você, é? – disse ainda com os olhos em Nina. – Interessante...
- Interessante mesmo. Muito interessante. – Milla cochichou no meu ouvido e rimos, observando o menino puxar conversa com Nina.

°°°

A despedida da Espanha, e da família da Evie, foi um tanto mais dramática do que imaginávamos. A verdade é que não queríamos admitir que as férias de verão estivessem chegando ao fim, e não queríamos voltar para casa. No meu caso, voltar para casa significava enfrentar uma nova lista de materiais, a perspectiva de começar o último ano de escola, os NIEM’s, etc.
A última semana fora mais divertida do que todas as outras. Culpa do Estevan, que conseguiu dobrar a Nina, e fez com que ela embarcasse em um “amor de verão” rebelde. Tão rebelde que ela nem mais falava sobre os irmãos Parker, em especial, o Michael.

- Não vamos ficar muito tempo sem nos ver. Eu garanto. – ele dizia pra ela, enquanto se despediam.
- Ok. Eu preciso resolver alguns assuntos, você sabe...
- Sei. Mas isso não te impede de me escrever, não é? Você tem meu endereço.
- E você o meu. – ela sorriu e eles deram um longo abraço. Nina se livrou dele pouco tempo depois e ao perceber que os olhávamos curiosos, corou. Veio andando em nossa direção, decidida a não nos deixar espaço para comentários maliciosos. – Muito obrigada por tudo, Evie. Me diverti muito aqui. Nos vemos então em uma semana.

Acenou uma última vez para nós e Estevan e mergulhou nas chamas verdes da lareira. Eu fui logo depois dela e sai na sala da nossa casa de Dublin, onde Vlade me recepcionou com um sorriso desanimado no rosto.

----------------

- Da próxima vez que cogitar a idéia de tirar férias, me impeça, por favor. – Vlade disse dramático e ri. – Está rindo porque você se divertiu, não é? Experimente ficar um mês inteiro dentro desta casa.
- Você também deveria ter viajado para algum lugar.
- Sozinho? – ele perguntou com desdém e sacudi os ombros. – Que dia está pensando em ir comprar seus novos livros? Preciso mesmo resolver algumas coisas em um vilarejo bruxo...
- Amanhã, talvez. Podemos ir a Arbanasi. Assim eu passo um tempo com Victor... Quase não nos vimos nas férias.
- Ok, tanto faz. – ele respondeu entediado e ri.

°°°

- Lavínia?! – Christine abriu a porta sorrindo. – Victor não nos avisou que você viria.
- Muito justo. Também não avisei a ele. Precisava comprar meus materiais e achei melhor aqui. Ele está em casa?
- Está sim, no quarto dele. Se quiser ir até lá...
- Vou sim. – me virei para falar com Vlade e Christine o reparou pela primeira vez, surpresa. – Me espera aqui? Vou perguntar se ele quer ir conosco.

Vlade acenou com a cabeça e subi correndo até o quarto de Victor. Ele estava deitado na cama, sem camisa, lendo um livro sobre quadribol. Sorri e ele deu um pulo vindo me abraçar.

- O que está fazendo aqui?
- Comprar os materiais. Aproveitei pra vir te ver. Fiz mal?
- Que pergunta. – me deu um beijo e com uma agilidade incrível trancou a porta do quarto e saiu me arrastando até a cama. Ri me desviando.
- Sossega. A proposta é tentadora, mas não podemos. Estamos em plena luz do dia, com sua irmã lá embaixo.
- Tudo bem. Christine não vem ao meu quarto nunca. – me puxou de volta me dando um beijo no pescoço.
- Ela pode até não vir, mas meu irmão viria, se eu demorasse demais a descer.
- Seu irmão? – Ele repetiu assustado se afastando e eu concordei com a cabeça, rindo.
- Em carne, osso e desconfiança. Ele também tinha que resolver algumas coisas em um vilarejo bruxo e veio me acompanhar. Na verdade, eu quem estou acompanhando ele e o tirando um pouco de casa... Já comprou todos os seus livros?
- Se esqueceu que minha mãe é dona da livraria do vilarejo? Já tenho tudo aqui.
- Ok. Então vou com Vlade providenciar os meus. Podemos nos ver depois.
- Ótima idéia. Venham jantar aqui em casa, então... Depois saímos para algum lugar... – ele recomeçou a se aproximar e me levantei, indo até a porta.
- Certo. Até mais tarde.

Desci as escadas esperando encontrar Vlade e Christine sentados em silêncio absoluto e constrangedor, mas me enganei. Os dois estavam na cozinha conversando animadamente, como se já tivessem se conhecido há anos.

- Oi. Ele não vai. Já comprou tudo. Nos convidou para jantar aqui esta noite, Christine.
- Ah, ótima idéia. – ela disse animada. – Venham mesmo, então. Aí posso terminar de te explicar mais sobre os pelúcios que estavam roubando cofres do Gringotes... – ela sorriu para Vlade que retribuiu. Nunca havia o visto tão “solto” daquela maneira e me diverti.
- Ok. Então nos vemos mais tarde?!
- Sim. Até.

Se despediram e quando seguimos andando pela avenida principal de Arbanasi, um sorriso besta continuava no rosto dele. Acho que por fim, ele não estava achando as férias tão chatas assim...

'cause these are the days worth living
these are the years we're giving
and these are the moments
these are the times
let's make the best out of our lives

The Calling - Our Lives

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O último mês das férias de verão estavam se alastrando com uma velocidade incrível. O que deveria ser só um mês de permanência na casa dos Neitchez, se tornou as férias inteiras. Maggie e Leví insistiram para que eu e Ricard ficássemos, e nós aceitamos de imediato. Nenhum dos dois tinha a mínima vontade de voltar para casa...

Estávamos todos sentados na mesa do café da manhã, quando três corujas marrons entraram pela janela e pararam em frente a mim, Victor e Ricard. Meu estômago deu uma volta completa e afastei o mingau de aveia, perdendo completamente o apetite. Victor e Ricard também encaravam os envelopes, ainda sem abrí-los.

KN: Acabem logo isso! Vocês já fizeram os NOM’s, não podem mudar os resultados agora. – Karl disse impaciente. Ricard foi o primeiro a tomar atitude e abrir o envelope. Deu uma olhada no resultado e sorriu.
RD: Nada mal. Tirei “A” em Alquimia, mas não esperava nada melhor do que isso...

Victor respirou fundo e abriu o envelope em suas mãos, puxando seus próprios resultados.

VN: Não fui tão bem. “A” em Alquimia e Herbologia. “E” em Trato das Criaturas Mágicas, e “O” nos outros.
CN: Nada mal, Vi! – Christine falou sorrindo. Minhas mãos tremiam.
RD: Abre logo isso, Vínia! –Ricard disse impaciente.

Abri. Na mesma hora, três cartas caíram na mesa. Peguei a última. Em um minuto, senti uma sensação de alívio que nunca havia sentido antes. Tão forte, boa. Tirando o “E” em Adivinhação, havia atingido “O” em todas as outras matérias. Tinha saído muito bem, tão bem que foi impossível não soltar um sorriso de alívio.

LD: Consegui! Vou poder continuar em todas as matérias!
RD: Grande novidade... – Ricard disse rindo e apanhando uma torrada.
MN: Parabéns querida. Ótimos resultados. – Maggie falou depois de passar os olhos pelo pergaminho.

Só depois de ler mais cinco vezes os resultados, me lembrei das outras duas cartas. Abri a mais grossa e sem nenhuma surpresa, estava a lista de livros para Durmstrang. Corri os olhos por elas, até que um deles me chamou atenção.

LD: Defendendo-se das Trevas. “Um guia avançado de Defesa contra as Artes das Trevas”. – li em voz alta arregalando os olhos. – Como assim, “defesa contra as artes das trevas”???

Ricard e Victor também olhavam assombrados para suas próprias listas. Parecia ter alguma coisa muito errada com elas.

MN: É, tivemos que fazer uma grande encomenda desses livros esse ano. Durmstrang passou a adotá-lo para todas as séries.
VN: Não faz o menor sentido! Quer dizer, faz. Eles devem estar pensando em nos ensinar a atacar uma defesa metódica.
RD: Não sei o que eles estão pensando em fazer, mas que isso está estranho, está! – Ricard concluiu fechando o envelope. – O que é essa outra aí, Lavínia?

Apanhei a última carta. Era bem menor, e escrita em uma caligrafia minúscula e bastante difícil de decifrar.

“Cara Srta. Durigan,

De acordo com seu desempenho nas aulas de Herbologia, e seu resultado nos NOM’s, venho por meio dessa anunciar que você é minha convidada para liderar o Clube de Botânica e Herbologia, esse ano. Caso haja alguma objeção, favor me comunicar o mais breve possível.

Agradecendo desde já,


Mikhail Kalashnikov
Diretor da Ansuz e Professor de Herbologia.”

Arregalei os olhos com a surpresa. Nunca esperava ser chamada para liderar o grupo de Herbologia. Participava dele desde o ano passado, mas ser líder? Minha cabeça deu um giro completo. Ricard puxou o pergaminho da minha mão e leu para todos.

VN: Uau, parabéns! – Victor me deu um beijo. – Você conseguiu três proezas: Receber uma carta do Professor Mikhail, decifrar os garranchos dele e ser chamada para comandar um clube!

Todos riram, mas senti a boca apertar. Eu queria mesmo aceitar, mas não saberia como agir, como liderar todas aquelas pessoas. Estava perdida em pensamentos quando um estalo se ouviu no quintal. Foi instantâneo. Todos apanharam as varinhas, apontando para a direção do barulho. Mas assim que vi pela janela quem vinha caminhando em nossa direção, meu queixo caiu e abaixei a varinha a tempo da pessoa bater na porta. Leví já ia perguntar quem era, mas me levantei adiantando.

LD: Tudo bem, Sr. Neitchez. É meu irmão.
LN: Ah. Certo. – concordou confuso, abrindo a porta. Vlade olhou de um para outro e então sorriu me dando um abraço.
SV: Já que você decidiu se ver livre de mim dois meses seguidos, vim te ver. Como você está?
LD: Estou bem. Esses são Leví e Maggie. Karl, Christine, Charlotte e Gabrielle. Você conhece os outros dois, certo? – apontei para cada um na mesa. Depois disse para os outros. – Esse é meu irmão, Steven.

Ele acenou com a cabeça. Ficou parado na porta olhando para cada um deles. Maggie se levantou conjurando mais uma cadeira, prato e talheres à mesa.

MN: Entre, por favor. Estávamos acabando de tomar café da manhã!

Vlade se sentou parecendo pouco à vontade. Conhecia-o bem demais para saber o quanto ele era anti-social. Me senti em um filme surrealista, onde várias coisas estranhas acontecem ao mesmo tempo. Uma hora antes eu estava me vestindo para descer, e agora eu já tinha recebido o resultado dos NOM’s, me intrigado sobre o livro de Defesa Contra as Artes das Trevas, sido convidada para ser monitora do clube de Herbologia e a pessoa menos provável de aparecer na casa de Victor para me procurar, estava nesse exato momento, sentado do meu lado.

LN: Lavínia nos falou sobre você. Auror não é? – Leví perguntou educadamente e Vlade confirmou. – Sua irmã saiu muito bem nos NOM’s. Até foi chamada para ser monitora do Clube de Herbologia de Durmstrang. Victor tem muita sorte em ter alguém como ela...

Por um momento quis desaparecer embaixo da mesa. Vlade se abrumou na cadeira e eu sabia o que ele estava pensando. Não deu outra.

SV: É, minha irmã é bastante inteligente.

E foi só isso que ele disse. Passou o resto do café da manhã conversando com os outros, e quando a mesa foi retirada ele segurou meu braço e disse baixo para ir conversar com ele no jardim. Caminhamos em silêncio até a porta da estufa.

SV: Então. Tudo bem?
LD: Sinceramente? Estava, até antes de você chegar. O que está fazendo aqui?
SV: Já disse. Vim te ver. Você pode não acreditar, Lavínia, mas eu gosto de você como se fosse minha irmã por completo. Quando soube que não ia para casa, vim. E não vai me dizer que você ainda está com raiva de mim, não é?
LD: Para você é fácil esquecer as coisas. Não esqueci. Nunca vou te perdoar por ter procurado o professor Nicolai antes do meu teste vocacional. Foi sujo, baixo, idiota demais! – soltei irritada.
SV: AH Lavínia, quantas vezes vou ter que te falar que só quero o seu melhor?!
LD: Fale quantas vezes quiser. Mas se quer mesmo o meu melhor, faz um favor pra mim? Para de se meter na minha vida! Eu estudei e ainda vou estudar muito para conseguir o que quero. Não preciso de você escolhendo o que é ou não, bom para mim, entendeu?
SV: Não vou mais atrapalhar em nada. Você sabe o que faz. Já vi que minha idéia de vir até aqui foi infeliz, então vou embora. Acho que não vou voltar para Durmstrang esse ano. Pedi transferência. Então a gente se vê...
LD: É, a gente se vê.

Ele desapareceu com um estalo e me deixou sozinha e pensativa.

°°°

Nos sentamos em um banco na praça principal de Arbanasi. Batia um vento fresco de fim de tarde, e estávamos bem cansados de caminhar. Passamos a tarde toda comprando livros, penas, ingredientes de poções, pergaminhos e tinteiros... Com os pés abarrotados de sacolas pesadas, apenas nos largamos no banco, cada um com um copo de chocolate quente na mão. Ficamos em silêncio um minuto, até Victor perguntar o que estava martelando na minha cabeça.

VN: Você vai ou não aceitar a proposta do Mikhail?
LD: Não sei.
RD: Como assim, não sabe? Quantas vezes você me disse para tentar uma vaga no clube, por que era muito bom, muito produtivo, etc. Agora que você tem a chance de guiar da sua maneira, você está pensando em recusar???
LD: Não tenho didática nenhuma, Ricard. Não sei liderar.
RD: Lavínia, PELAS BARBAS DE MERLIN! Os alunos do clube são selecionados a dedo! Você não vai precisar ensinar nada! Eles são tão bons quanto você! Você só vai precisar guiar eles. Comandar o que vai ser feito, e quando vai ser feito. COMO vai ser feito eles devem saber muito bem.

Ricard parou de falar. E era sempre assim. Eu tinha uma dúvida e Ricard a matava com vários tiros certeiros. Como se a resposta sempre fosse óbvia. É claro que eu iria aceitar. É claro que os outros alunos eram bons em Herbologia.

LD: Você tem razão. Vou aceitar.
VN: Isso aí. Tenho certeza que se o Professor Mikhail te escolheu entre outros tantos, é por que ele sabe que você vai conseguir.
RD: Bom, resolvido o dilema? Vou ao correio despachar uma carta aos meus tios dando notícias. Depois vou voltar para casa. Vocês estão indo agora?
VN: Daqui a pouco vamos. Só quero mostrar um lugar para a Lavínia antes. Nos encontramos lá.

Ricard apanhou as sacolas dele e saiu descendo a rua para os correios. Victor se levantou apanhando o restante das sacolas e pedindo para que o seguisse. Subimos a mesma rua, até o final, e quando minhas pernas já começavam a reclamar, ele parou. No alto da ladeira, agora no começo da noite, dava para ver Veliko Tarnovo ao longe. Vários pontos luminosos brilhando. Victor largou as sacolas no chão e me abraçou.

VN: Agora você já conhece meus dois lugares favoritos. A sala do aquário e aqui.
LD: É lindo. – respirei fundo. Tirei da cabeça todos os problemas por uns minutos. Beijei Victor devagar. – Eu te amo.

Ele travou por um momento. Parecia não saber o que dizer. Na verdade, nem eu sabia. Foi muito instantâneo, mas depois que disse, me senti bem mais leve. Inacreditavelmente leve, como se aquilo estivesse engasgado há muito tempo. Victor ainda me encarava sem reação.

LD: Se eu soubesse que você agiria assim, nunca teria dito!
VN: Desculpa. É a primeira vez que você fala isso.
LD: Eu sei.

Estava tentando parecer casual. Victor ainda me olhava assustado, mas depois de uns segundos riu e me abraçou com força.

VN: Eu prometo que eu nunca vou deixar você.
LD: Não promete isso. Não promete nada. Vamos só deixar acontecer, ok?

Ele me encarou sério e eu percebi que mesmo que eu não estivesse levando a promessa dele a sério, ele estava. Abracei ele de novo e ficamos calados observando a noite cair. Alguma coisa me dizia que o novo ano em Durmstrang mudaria minha vida, de alguma maneira...

Staring at the blank page before you
Open up the dirty window
Let the sun illuminate the words that you could not find
Reaching for something in the distance
So close you can almost taste it
Release your inhibition

Feel the rain on your skin
No one else can feel it for you
Only you can let it in
No one else, no one else
Can speak the words on your lips
Drench yourself in words unspoken
Live your life with arms wide open
Today is when your book begins
The rest is still unwritten

Natasha Bedingfield – Unwritten

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

CN: Gabrielle, devolve minhas sandálias! – Charlotte apareceu na porta do quarto de Christine irritada. Gabrielle que até então estivera desfilando com as sandálias de salto alto para mim e Christine, olhou para Charlotte como se ela estivesse cometendo um crime e as descalçou.
GN: Estraga prazeres! – disse mandando a língua. Charlotte mandou de volta e saiu. – Queria poder usar saltos e maquiagens logo!!! Por que mamãe diz que só quando eu crescer??? – sentou-se na cama aborrecida revirando os olhos.
CN: Por que criança com salto e maquiagem pesada fica parecendo anã! E você é linda, não precisa de tantas coisas no rosto! – Christine disse passando a mão no cabelo da irmã, sorrindo. – Acho que é melhor descermos... Já devem estar todos prontos!

A noite estava linda. O céu aberto, coberto de estrelas, e uma brisa morna passando. Chegamos à mansão dos avôs de Victor uns minutos depois, situada em um bairro periférico de Veliko Tarnovo, e pelo jeito, fomos os últimos. Assim que entramos, um casal muito simpático veio cumprimentar todos. Reconheci como tia Valéria e Anthony.

VN: AH, então você é a famosa Lavínia hein? – disse tia Valéria dando uma olhada para mim e sorrindo. – Meu sobrinho tem um ótimo gosto!
AN: Realmente... Victor tem um ótimo gosto! – Anthony se aproximou segurando um copo de whisky e pegando minha mão. – Muito prazer!
LD: Igualmente. – sorri um pouco sem graça. Victor riu com gosto me abraçando.

Fomos entrando e em poucos minutos, apresentados para o restante de tios e primos. Finalmente nos sentamos em uma mesa onde estavam Christine, Karl e Adam.

AN: Fiquei tentado a aceitar os hipógrifos... Me pareceram tão dóceis! – Adam dizia em tom sonhador. Karl e Christine gargalhavam. – Mas então pensei: Onde vamos enfiar hipógrifos na loja? Não são o tipo de animais mágicos que cabem dentro de uma gaiola ou tanque não é?
CN: Uma pena não termos espaço para um criadouro no fundo da loja. Também adoro os hipógrifos! – Adam concordou pesaroso e se virou para nós sorrindo.
AN: Então... Já apresentou a família toda, Victor?
VN: Já. Tia Valéria apertou tanto a bochecha de Ricard que estava começando a me preocupar por ele! – todos riram, inclusive Ricard.
AN: Normal. Mamãe adora meninos com cara de intelectuais.
KN: Onde está o Jason? Falando em intelectuais...
AN: Ah, acho que lá dentro com Charlotte e Ashley, não é? Eles sempre se excluem nas festividades.
KN: É. No mínimo estão discutindo o futuro da nação zumbi e seus direitos.
CN: Ou em uma conversa SUPER animada sobre a relação entre bruxos de diferentes nações!

Christine completou e fez todos rirem novamente. Não muito longe, Anthony e Leví estavam rindo deliberadamente enquanto conversavam de cabeças juntas, olhando para as esposas. Estava distraída um momento olhando eles, quando ouvi uma voz bem próxima ao meu ouvido.

FN: Não vai me apresentar sua namorada, Victor?

A voz era de um menino bem loiro, que aparentava ter nossa idade, usava um brinco na orelha e sorria ironicamente. Victor torceu os lábios.

VN: Como vai Fabrício? – disse educado, mas senti uma pontada de desgosto na voz. O garoto continuou a sorrir.
FN: Muito melhor agora... Já que não nos apresentou, faço eu mesmo. Muito prazer, Fabrício. – Disse estendendo a mão. Victor apertou o braço que tinha ao redor da minha cintura, me fazendo chegar mais próxima dele. Agarrei a mão de Fabrício sorrindo.
LD: Lavínia. – ele riu e puxou minha mão, dando um beijo demorado e não desgrudando os olhos de mim. Quando soltou, senti Victor tremer.
FN: E você é? – virando-se para Ricard interessado.
RD: Ricard. – Mas Ricard não estendeu a mão, e parecia nem fazer questão. Ao olhar para ele vi que ele tinha tomado as dores de Victor e fechado a cara para Fabrício. O garoto pareceu notar, e não se importar nada com isso. Fato que fez ele se sentar próximo.
FN: Se eu soubesse que em Durmstrang tinham tantas garotas bonitas, teria ido para lá também... – ele falava me encarando. Victor respirou fundo antes de responder com calma.
VN: Oh não. O que seria da Escola Americana sem a sua simpatia? E além do mais, a mais bonita delas já é minha namorada! Dei sorte. – Ele puxou meu rosto me dando um beijo demorado. Fiquei aturdida, mas correspondi. Fabrício soltou um sorrisinho cínico.
FN: Realmente... Muita sorte!

Em poucos minutos descobri o motivo da antipatia Victor X Fabrício. O garoto era realmente tedioso! Começou a se gabar contando suas aventuras e desventuras em séries na Escola Americana. Ficava lançando olhadinhas, piscadinhas e passando a mão no cabelo a cada minuto.
Victor já estava a ponto de enfiar um soco no nariz dele, quando Carrie e Leví chamaram o restante da família para perto da mesa de jantar. Respirando aliviada, saí puxada por Victor, Ricard ao nosso encalço.

CN: Primeiramente, é ótimo ter vocês aqui. Merlin sabe o quanto é difícil reunir essa família toda!
KN: Ah vovó, mas nós estamos sempre por perto! – Karl disse e o restante concordou sorrindo. A avó riu.
CN: Verdade. Mas não tão perto, não é mesmo? Só nos reunimos em aniversários, e isso quando damos a sorte de estarmos todos aqui... Mas deixando de lado essa particular crise de abandono familiar, e começando a falar de coisas que realmente interessam: Aniversário de Lauren!!!

Todos aplaudiram a mulher loira que estava entre os pais sorrindo pouco. Ela fez um sinal com a cabeça agradecendo.

LN: Obrigada mais uma vez por terem vindo. Não vejo muito sentido em comemorar mais um ano de vida... Acho que estamos ficando velhos. Levei um baita susto quando vi a Gabrielle hoje! O tamanho dessa menina é assustador!
GN: Acho que ainda tenho que crescer um pouco mais para poder usar saltos então! - Gabrielle disse pensativa e a família toda riu.
LN: Mas aproveitando que estamos todos reunidos, eu tenho um comunicado a fazer... Acho que só contei isso à Ashley ainda. Eu decidi que vou voltar a trabalhar novamente! Eu sei, eu sei, estou quase chegando à idade de me aposentar, mas é que depois de tanto tempo presa em casa, amargurada, eu decidi que preciso refazer minha vida. O primeiro passo é voltar ao trabalho. Portanto, Maggie, se você ainda me aceitar como sócia na livraria...
MN: Vai ser um prazer imenso ter você de volta, Lauren! Ainda mais com toda essa disposição! – Maggie disse carinhosamente e as duas sorriram. O restante da família aplaudia em comemoração.
VN: Vocês estão presenciando um dos momentos mais históricos da família, hoje! Tia Lauren finalmente resolveu tirar o luto!!! Sensacional. – Victor sussurrou de maneira que só eu e Ricard pudéssemos escutá-lo. Rimos.

Após o jantar, Anthony e Valéria puxaram uma dança animada que tinha um estilo de maxixe, mas era mais comportado. Não demorou muito até que todos formassem casais e se distribuíssem dançando animados, até mesmo eu e Victor, mesmo não tendo qualquer tipo de coordenação motora. Ricard acompanhou Charlotte por um longo tempo e os dois pareciam estar se divertindo.
Olhei ao redor rindo. Eu estava em uma típica “Festa de Família”!!!

You've already won me over in spite of me
Don't be alarmed if I fall head over feet
Don't be surprised if I love you for all that you are
I couldn't help it
It's all your fault.

Alanis Morissette - Head Over Feet

terça-feira, 17 de julho de 2007

Foi difícil para mim e Victor disfarçarmos as olheiras e caras de sono na manhã seguinte. Sorte que toda a família Neitchez estava muito empenhada conversando sobre a festa de noite que não repararam.

Durante a parte da manhã, Christine e eu fomos colher algumas verduras na horta da casa, e depois fomos até a estufa onde Leví caminhava entre as plantas parecendo muito satisfeito.
Assim que entramos, ele acenou para que nos aproximássemos e sorriu.

LN: Mag? Está na cozinha? – ele perguntou em tom receoso para Christine. Ela confirmou com a cabeça animada. – Certo. Então venha ver o que Karl e Christine trouxeram essa semana, Lavínia!

A julgar toda a preocupação em manter a esposa distante dali, eu soube que não seria nada de muito inocente. Estava certa. Ao alcançarmos o final da estufa, um canto escuro havia sido reservado para uma massa de raízes e galhos que se moviam lentamente.

LN: Sabe o que é? – os olhos de Leví brilharam.
LD: Visgo do diabo. Claro que sei! Nós estamos estudando ele no clube de herbologia para tentarmos encontrar alguma propriedade medicinal.
LN: Clube de herbologia é? Aposto como Victor não participa dele...
LD: É. Acho que Victor não se interessa muito por plantas. – sorri tentando parecer casual.
CN: Ele não sabe o que perde! Adoro estudá-las. Eu e Karl também éramos dos clubes de herbologia e de Trato das Criaturas Mágicas. Como sinto falta...

Ela manteve o olhar saudoso e eu tentei escapar de algum comentário, fazendo uma pergunta que não saía da cabeça.

LD: Vocês sabem que o visgo do diabo cresce rapidamente, não sabem? – perguntei em dúvida. Leví enrugou a testa.
LN: Sim, realmente cresce rápido.
LD: Como vão fazer para escondê-lo? Pode ser realmente perigoso se ele crescer demais.
LN: Ainda não pensamos nisso, não é Chris? Ele chegou essa semana e ainda há espaço para ele crescer por aqui... Quando não houver, despachamos uma parte dele para algum amigo maluco do Karl e do Adam.
CN: Ah sim, aposto que vão adorar! – Christine comentou sorridente. – Bom, é melhor eu e Lavínia levarmos logo essas verduras para mamãe antes que ela venha conferir o que andamos aprontando...
LN: Por Merlin! Depressa! Maggie nem pode imaginar que andamos cultivando Visgo do Diabo por aqui. É capaz de ela me matar e morrer logo em seguida!

Christine e eu rimos e voltamos para a cozinha. Charlotte havia saído bem cedo, pois tinha que ser intérprete de um grupo de bruxos italianos em uma conferência no Ministério. Gabrielle e Karl estavam jogando uma partida de bexigas, e Victor e Ricard conversavam no outro extremo da mesa bem baixo. Reparei que assim que entramos, os dois me olharam e sorriram parando de falar.

CN: Aqui está mamãe, fresquinhas! – Christine e eu pousamos as cestas de verdura na mesa. Maggie sorriu.
MN: Obrigada meninas. Chris, pode cortar os tomates para mim por favor? – ela perguntou gentil à filha que concordou pegando um bocado de tomates. Maggie se virou para mim. – Você se importaria de descascar as batatas querida?
LD: Claro que não! – disse de pronto apanhando a bacia de batatas e uma faca. - Me aproximei de onde Ricard e Victor conversavam. – Parem o assunto, por que o assunto acabou de chegar! – disse sorrindo e me sentando entre eles. Victor riu.
RD: Já te disse para deixar com essa mania de achar que o mundo gira em seu redor... – Ricard disse pensativo.
LD: Então se o assunto não sou eu. Qual é?
RD: “A GRANDE FAMÍLIA NEITCHEZ”! Victor estava me fazendo um breve perfil de seus tios, tias e primos... Olha só a foto! – Ricard mostrou a foto em cima da mesa rindo. Estavam ali todos os familiares, de avô e avó, até Gabrielle.
LD: Sério? Pois então pode começar de novo! – falei interessada descascando a primeira batata. Victor riu concordando e pegando fôlego.
VN: Essa é minha avó, Carrie, e esse meu avô Leví. – disse apontando para um casal de idosos no meio, que se abraçavam sorrindo. – Se conheceram no St. Alborghetti, apesar de terem se cruzado em Durmstrang também, por que vovó se formou um ano depois de vovô. Os dois eram medibruxos. Bom, tiveram quatro filhos. O mais velho deles é meu pai, mas esse eu não vou descrever ok? Acho que já deu para vocês o conhecerem bem...
LD: Ok, ok, vocês pode pular. Mas continua por que até agora está interessantíssimo! Medibruxos! – disse descascando uma segunda batata com um tom sonhador. Ricard riu e Victor continuou.
VN: Depois veio tia Valéria. Ela é casada com Anthony, ou o famoso tio Tony. Bom, não há muito mais a falar deles além de: são hilários! Os tios que eu mais gosto, disparadamente. Tia Valéria é coordenadora da Charlotte no Ministério da Magia. Trabalha há anos no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. E tio Tony é obliviador. Por causa dele eu estou pensando em me tornar um. São realmente muito animados e bem-humorados! Tiveram três filhos: Jason e Adam que são gêmeos, e Fabrício que é 6 anos mais novo que eles. –ele apontou para os tios, e os três primos. - Jason é um tipo sabichão, ambicioso. Não conversamos muito... Aliás, ele passa a maior parte do tempo conversando com Ashley e Charlotte, que são as duas que agüentam ele repetir toda hora o quanto ele é esperto! Está terminando direito bruxo. Adam é completamente diferente. Ele é sócio de Karl e Christine na loja de animais e faz parte do time reserva da seleção de quadribol da Bulgária. Com ele me dou muito bem! Fabrício... Bom, dele eu definitivamente tento manter distância. Muito pior que o Jason. Estuda na Escola Americana e é um saco!!! Jura que o mundo gira ao redor dele.
RD: Hum, mas ele já fez alguma coisa específica, ou é só implicância? – Ricard perguntou desconfiado e Victor o olhou sério.
VN: Acredite, ele é um saco! Não fala nada inteligente e faz piadinhas idiotas para chamar atenção. Tirando o fato que ele só foi para a Escola Americana de Magia para ser o diferencial, uma vez que todo o restante da família estuda, estudou, ou estudará em Durmstrang!
RD: Ah, certo. – Ricard concordou com um olhar de quem queria rir e me concentrei na batata. Era óbvio que Fabrício já tinha aprontado alguma com Victor, além de ser narcisista rebelde.
VN: Então vem tia Lauren, minha madrinha. – ele apontou para uma mulher loira ao lado do avô. Apesar de aparentar certa idade, era bem bonita ainda. Tinha traços fortes. – Ela se casou com Brian. Ele tinha uma loja de poções. Tiveram uma única filha, Ashley, e dois anos atrás ele morreu envenenado por uma poção que ele mesmo tinha feito. Depois desse acontecimento, tia Lauren raramente ri e leva bastante a sério até as menores das preocupações. É amargurada com a vida, e bastante sistemática. Ashley se parece bastante com Charlotte. É bem introspectiva e também quer ser advogada e está um ano atrás de Jason.
RD: Bom, bonita ela é. Quer dizer, bem bonita! – Ricard a olhou com interesse. Virei os olhos e apanhei outra batata. Victor sorriu.
VN: Por último, tia Agatha. Casada com tio Johnny, mãe de Igor e Andrea. Tia Agatha é a única que seguiu a profissão de meus avôs. Ela também é medibruxa. Tio Johnny é auror. Não são de conversar demais, nem tão animados quanto tia Valéria e tio Tony. Mas são simpáticos. Igor se formou com Charlotte e para orgulho de tio Johnny está fazendo a Academia de Aurores. E Andrea vai começar o 5° ano na Durmstrang, acho que vocês devem estar achando ela familiar...
LD: Hum, bem sabia que a conhecia de algum lugar! – Ricard concordou comigo. – Mas nunca te vi falando com ela... Ela também é um saco? - Ricard riu com gosto. Victor me olhou intrigado.
VN: Não converso com ela por que ela não conversa comigo. A única pessoa que conversa com Andrea são os pais dela e Christine, que algumas vezes consegue arrancar alguma coisa. Muito tímida. Quando passa por mim nem olha, então finjo que não vi também. Ação e reação.
RD: Deve ser estranho. Quer dizer, vocês pegam o mesmo trem todas as vezes, descem nas mesmas estações, se cruzam pelos corredores e salas, e nem ao menos se tratam como familiares?
VN: Já nos acostumamos a nos ignorarmos... – Victor disse franco encarando a foto mais uma vez para ver se não tinha se esquecido de ninguém. Terminei de descascar as batatas e levei até Maggie. Christine e ela riam abertamente enquanto misturavam coisas nas panelas.
MN: Ah, muito obrigada!
LD: De nada... Posso ajudar em mais alguma coisa?
CN: Acho que não, Vínia. Já está tudo sobre controle! – Christine piscou para mim sorrindo. Voltei para a mesa.
RD: E a família da sua mãe? – Ricard perguntou. Karl e Gabrielle que estavam ali perto e tinham parado a partida de bexigas, olharam de imediato para Maggie. Victor paralisou.
VN: Shhh! Aqui não. Venham comigo. – olhei assustada para Maggie, mas ela continuava distraída conversando alguma coisa bastante interessante com Christine, por que continuava a rir. Victor saiu da cozinha puxando uma verdadeira fila. Sentamos na sala.
KN: Desculpem o susto. É por que mamãe realmente não gosta de falar da família dela.
GN: Ninguém sabe nada da família dela. Talvez papai e nossos tios, mas ele não nos conta. Pede para que esqueçamos desse assunto.
RD: Então sua mãe é órfã?
KN: Quase isso. A única coisa que sabemos é que mamãe estudou com tia Valéria em Durmstrang, e quando estava terminando o 4° ano, fugiu de casa. Tia Valéria disse para ir morar na casa dos meus avôs, até que ela arrumasse um outro lugar. Mas então ela foi ficando, e meus avôs se apegaram nela. Até meus tios. E meu pai se apaixonou. Bom... Deu no que deu!
VN: Eles se casaram, mamãe nunca mais voltou à casa dela, e segundo tia Valéria, nunca mais procurou saber dos familiares. Nem o contrário.
GN: E nos tiveram! – Gabrielle concluiu e fez Karl, eu e Victor rirmos. Ricard permanecia sério.
RD: Ela também sabe o que é não ter uma família... – ele falou amargurado e fiquei séria. Victor, Karl e Gabrielle se entreolharam.
KN: Não, ela sabe. Por que a família do papai a adotou como filha também, então ela não sente falta. E como disse papai: Família nem sempre significa o núcleo de pessoas ao qual você pertence por nascença. Significa o núcleo de pessoas do qual você recebe atenção e apoio. – Karl disse. Todos nós continuamos em silêncio. – E acreditem, papai disse isso sem beber conhaque antes! Então é uma filosofia válida!

Todos riram. Christine apareceu na porta da cozinha rindo também.

CN: O almoço está pronto!!!

Como se quisessem animar um pouco, Karl, Victor e Gabrielle deram vivas e se levantaram de imediato nos puxando até a cozinha. Leví já tinha voltado da estufa e estava sentado ao lado de Maggie na mesa. Sorriram quando nos sentamos. Charlotte chegou um minuto depois.

CN: AHH, estou faminta! Pensei que esses italianos nunca fossem embora! Estava cansada de ser diplomática já! – abocanhou uma batata cozida.
KN: Já deu pra perceber, Chat.

Ela de repente reparou no quanto a boca estava cheia e soltou um sorriso sem graça. Ao meu lado, Ricard riu, mas mantinha uma expressão pensativa. Eu sabia o que ele estava pensando. Olhei ao redor e me senti feliz. Pela primeira vez me senti em família.

Are you not afraid to tell your story now, but everyone is gone?
It’s too late
Was everything you’ve ever said or done not the way you planned?
Mistake

The Corrs – Would you be happier?

terça-feira, 10 de julho de 2007

O sinal indicando o término das aulas soou. Lavínia não queria perder um só minuto. Precisava terminar rolos de deveres, praticar vários feitiços, analisar vários mapas estrelares. Tudo parecia tão diferente e louco para ela!

Era o seu primeiro ano no Instituto Durmstrang, e apesar de já terem se passado dois meses desde que ela tinha chegado, ela não conseguia se acostumar com tudo aquilo. Era um tipo de responsabilidade que ela ainda não tinha aprendido a carregar. Mas tinha certeza que ia se adaptar. Mais cedo ou mais tarde ela ia se adaptar.
Saiu pelos corredores carregando vários livros da biblioteca nas mãos. O inverno castigava, mas não havia tempo para reparar no bloco de neve que tampava seu caminho até a República. Devagar, começou a atravessar a camada de gelo.

Ali perto ouviu a risada de vários garotos, mas preferiu não parar para olhar o que estariam fazendo. Apenas continuou. E teria sido indiferente a tudo, se uma gelada e grande bola de neve não tivesse a acertado nas costas e feito com que todos os livros que carregava nas mãos saltassem para o chão. Ela sentiu o sangue ferver. Virou irritada.
Dois garotos vinham correndo com dificuldade em sua direção.

- Se machucou? – um menino branquelo de olhos azuis e óculos perguntou.
LD: Vocês... Vocês! UGH! Será que não conseguem ter nem pontaria?!
- Desculpa. Não te vimos passar atrás desse nevoeiro todo.

A menina olhou feio e se abaixou para apanhar os livros. O outro menino que até então estivera em silêncio observando com interesse, se abaixou de pronto para ajudá-la. Ela estava com muito ódio para reparar, mas ele mantinha um sorriso sonso no rosto.

LD: Todos molhados. A bibliotecária vai me matar.
- Você não sabe secá-los? É um feitiço simples, posso fazer... – o menino puxou a varinha e Lavínia achou aquilo demais. Riu.
LD: Obrigada. Eu sei fazer. E vocês já me atrasaram demais. Passar bem...

Só que antes que ela ou qualquer um dos outros dois pudesse se mover ou dizer mais alguma coisa, a menina sentiu sua cabeça rodar. Estava acostumada a ter essas tonturas, mas dessa vez foi mais forte. Seus olhos foram se fechando, seu corpo amolecendo. E ela se lembra de ouvir os livros caindo novamente, depois disso... Escuridão.

°°°

Acordou em uma sala grande, branca, iluminada demais. A considerar as cortinas brancas que estavam cercando a cama, ela soube que era a enfermaria do colégio. Sentou-se. O barulho fez com que passos apressados a alcançassem e abrissem a cortina. Uma moça sorridente a encarava.

- Então? Acostumada a desmaiar?
LD: Não. Tonturas já tive. Mas desmaios... É grave?
- Oh, não querida. Só acho que você não andou comendo no último dia. – a curandeira respondeu com gentileza. Era verdade. De fato ela não havia comido nada além de sapos de chocolate no último dia. Se sentiu uma idiota. – Já está liberada se quiser ir. Alimente-se direito da próxima vez. E a propósito, seus dois amigos estão esperando na sala de espera desde que te trouxeram...

Amigos? Ela não tinha amigos! Tinha trocado meia dúzia de palavras com as outras quatro meninas do seu quarto na República, mas ainda não eram amigas. Ela duvidada que lembrasse o nome de todas elas. Mas então ela se lembrou de tudo e percebeu. Eram os dois idiotas que a tinham acertado uma bola de neve. Sua cabeça deu um giro. Por que estavam esperando ela até agora se sabiam que ficaria bem? Levantou-se da cama e foi até lá. O menino de óculos se levantou de imediato a encarando sorridente. O outro se levantou enfiando as mãos nos bolsos olhando o tênis.

- Então... Se sentindo bem?
LD: Vou sobreviver. Se mais nenhuma bola de neve me encontrar por aí, quem sabe eu sobreviva.

Ela falou em tom irônico e o de óculos gargalhou. O outro apenas sacudiu os pés.

- Você é exagerada, garota.
LD: Certo. Onde estão minhas coisas?
- Ali. – ele apontou para o canto onde sua mochila e os livros já secos haviam sido colocados. Ela os recolheu e se preparou para sair olhando para eles mais uma vez.
LD: Tentem ser mais certeiros na próxima.

Ela se virou de costas. O menino deu outra gargalhada antes de perguntar.

- Não vai agradecer por termos te trazido até a enfermaria?

Ela se virou com raiva. Esse menino estava conseguindo a tirar do sério.

LD: Não fez mais do que a obrigação!
- Hum. Bom, então desculpe mais uma vez o incômodo e a propósito, me chamo Ricard. – ele estendeu a mão para ela que ficou olhando da mão para o rosto dele indecisa. Resolveu apertá-la.
LD: Lavínia Durigan. – ela então reparou pela primeira vez com grande interesse no outro menino que continuava calado. – Ele é mudo?

Ricard riu com gosto e sacudiu o outro que levantou o rosto para ela com um sorriso fraco. Estendeu a mão também.

- Victor Neitchez.

Ela apertou observando o quanto o garoto era interessante. Em todos os aspectos. Tinha a pele bem branca, os cabelos castanhos lisos jogados em seu rosto e os dois maiores olhos verdes que ela já havia visto. Alguma coisa naquele rosto a fez sorrir e o aperto de mão dos dois durou mais do que necessário.

RD: Então, já que fomos apresentados... – Ricard interrompeu o contato visual dos dois, consequentemente o aperto de mãos também. – Não quer ir tomar um chocolate quente conosco no vilarejo, Lavínia? Estávamos justamente pensando em ir lá quando você acordasse.

Ela considerou o convite. Os deveres e livros a inclinavam a recusar, mas ela já não estava com raiva. Estava se sentindo bem. Confortável. Não se sentia assim há tempos. Acabou aceitando. Afinal, que mal faria tentar algumas amizades por ali?

°°°

A sala e tudo ao redor estavam em silêncio total. As únicas luzes visíveis eram a da lamparina em cima da mesa, e uma fraca que vinha do aquário. Victor passava a mão em meus cabelos lentamente. Eu estava deitada ao seu lado, a cabeça em cima do seu peito descoberto, e mantinha um olhar fixo no aquário. Sorri. Victor percebeu e abaixou a cabeça para me olhar.

VN: Um beijo por seus pensamentos. – ele ofereceu. Subi meu corpo e lhe dei um beijo longo. Ele sorriu.
LD: Estava me lembrando do dia que nos conhecemos.

Ele fez um olhar pensativo e riu em seguida. Me abraçou mais junto ao corpo dele.

VN: O dia em que eu acertei uma bola de neve nas suas costas e Ricard assumiu toda a postura de culpado por que eu fiquei hipnotizado com você? Me lembro...
LD: Nos conhecemos há quase 5 anos, Vi!
VN: E eu me apaixonei por você desde o momento que bati os olhos nos seus. – ele passou o polegar devagar pelos meus olhos, nariz, boca... Me deu outro beijo. – Eu te amo.

O olhei. Senti um aperto no estômago. Não conseguia responder. Eu amo ele, claro que amo. Quer dizer... Amo? Por que não consegui responder? Sorri. Para ele aquilo pareceu o suficiente, pois continuou afagando meus cabelos.

LD: Não acha que devemos voltar? Já deve estar próximo de amanhecer, e não podem saber que sumimos.

Ele concordou com a cabeça, mas não fez menção de se levantar. Eu também não queria. Mas tínhamos que ir. Me sentei e recolhi a blusa no chão, vestindo-a. Victor ficou me observando.

LD: Vem. Você também precisa encontrar suas roupas por aqui... – puxei seu braço com força o fazendo sentar. Ele não tirava os olhos de mim.
VN: Eu te amo, Lavínia.

Não tinha como. Eu tinha que responder. Mas eu não conseguia. Alguma coisa dentro de mim não deixava. Ele parecia ter lido meus pensamentos.

VN: Não quero que diga que me ama se não sente isso ainda. Só quero que você saiba.

Concordei com a cabeça e fiz questão de me apressar ao vestir a calça. Precisava mudar de assunto. Sair dali. Fazê-lo parar.

Ele se levantou vestindo a roupa também e voltamos em silêncio. Ao chegarmos na porta do quarto de Charlotte, virei para ele, que me abraçou forte pela cintura e me fez encostar contra a parede, me prendendo.

LD: Vai acordar a casa inteira assim! – olhei para os lados alarmada. O silêncio ainda prevalecia. Ele parecia não se importar. Ficou olhando para mim um minuto, e me deu um beijo bastante lento, como se quisesse que o mundo acabasse naquele instante.

Quando nos soltamos, ele sorriu e entrou no quarto dele. Eu entrei no de Charlotte nas pontas dos pés. Ela continuava com um sono profundo. Deitei na cama e abracei o travesseiro. Um sorriso saiu no meu rosto sem pedir licença.

- Eu também te amo, Vi. – falei baixinho para mim mesma e fechei os olhos com força.

Your skin
Oh yeah, your skin and bones,
Turn into something beautiful,
Do you know?
You know I love you so,
You know I love you so.

Coldplay - Yellow

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Victor tinha de fato convencido eu e Ricard a passarmos um mês das férias de verão com a família dele. Ou melhor, com a GRANDE família dele. Composta de avôs, avós, tios, tias, primos, primas, genros, noras, mãe, pai, e nada menos do que quatro irmãos!
Os pais e irmãos de Victor vivem em uma casa muito grande, no povoado bruxo de Arbanasi. Quando digo povoado, é povoado mesmo! Arbanasi tem aproximadamente 500 moradores e fica a 4 km de Veliko Tarnovo, cidade onde o restante da família mora.

Os pais de Victor, Leví e Maggie, são búlgaros e ambos, bruxos aposentados. Leví era um famoso advogado bruxo, e Maggie era escritora de livros de feitiços. São casados há quase 30 anos. Hoje em dia, para não caírem em tédio, Leví cultiva uma grande horta e estufas no quintal de casa, e Maggie continua administrando a única livraria de Arbanasi. São pessoas extremamente simpáticas e pacientes.
E os irmãos de Victor... Bem, no mínimo são diferentes!

Karl Leví é o mais velho deles. Tem 25 anos e é dono da loja de animais do povoado. Está sempre de bom humor e pronto para lançar piadas contra os irmãos e demais familiares. Tem pinta de garanhão e Victor me disse que ele nunca teve uma namorada que durasse mais do que três dias.

Christine tem 23 anos. Ajuda o irmão na loja de animais, e o pai a cuidar das estufas e da horta em casa. É calma, adora plantas, animais, e o movimento pacato do vilarejo. Também tem um senso de humor imenso, além de ser muito inteligente.

Charlotte tem 18 anos e se formou em Durmstrang há um ano. Está fazendo estágio no Ministério da Magia, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Ela é mais fechada de todos eles. Sabe falar cinco línguas e é bastante vaidosa. Ainda assim, sempre foi muito gentil comigo.

Gabrielle é a caçula. Tem 9 anos e é a criança mais comportada que já conheci. Adora ler, cantar, faz jazz, já sabe tocar violino e se diverte com muito pouco.

Quando chegamos a Arbanasi, as férias que começaram bem tumultuadas por conta do ataque dos Comensais ao trem, deram uma guinada incrível para cima. Os pais e irmãos dele pareciam bem dispostos a fazer com que eu e Ricard nos sentíssemos bem à vontade, o que estava sendo desnecessário, pois não demorou nada até que eu me sentisse em casa.

Estávamos todos sentados à mesa, uma semana após o término das aulas. Tínhamos acabado de jantar e a cozinha caiu em silêncio profundo. Ricard suspirou satisfeito, pousando o garfo no prato.

RD: Estava tudo muito bom, Maggie. – a mulher sorriu gentil para ele, servindo-se de um pouco de café com conhaque.
MN: Obrigada querido. Mas tive ajuda. Não sabia que você sabia cozinhar tão bem, Lavínia. – ela continuou sorrindo e olhei constrangida.
LD: Ah, eu engano. Tive que aprender a cozinhar, por que meus pais não sossegam em casa.
MN: Sei como é. E não é culpa deles, sabe? Eu e Leví só estamos tendo tempo para a família agora, que nos aposentamos. Mas antes era uma loucura!
KL: Mas você nunca deixou de cozinhar para nós, mamãe! – Karl disse e Maggie olhou o repreendendo e de volta para mim, que ri.
LD: É, bom... Eu não os culpo de não terem tempo! – afirmei e ela pareceu aliviada.
LN: É o melhor a se fazer. Os pais são a sua ponte do passado ao futuro. – Leví comentou também tomando uma dose de conhaque e segurando a mão de sua mulher. Charlotte deu uma risadinha virando os olhos.
CN: Papai, não vai começar com suas filosofias de novo, vai?
- Deixe ele, Chat. Eu adoro as frases profundas que papai declara após boas doses de conhaque! – Christine sorriu e o pai retribuiu agradecendo. Karl soltou uma gargalhada alta.
KL: Chris, lembra aquele dia que papai nos disse... Hem hem: “Viver com autonomia é produzir a seiva da própria vida”. – Karl imitou a voz do pai e todos riram. – Foi quando abri a loja. Nunca me esqueço da sua cara séria, pai.
LN: Eu sei, eu sei. Vocês realmente nunca se esquecem dos meus ensinamentos! – ele deu uma pausa para terminar o cálice de conhaque então perguntou animado. – O que acham de irmos até Veliko Tarnovo amanhã? É aniversário de sua madrinha Victor, e você conhece a Lauren... Vão dar um jantar na casa de sua avó.

Victor concordou com a cabeça pensativo. Karl, Christine e Gabrielle apoiaram animados enquanto Charlotte ficou séria.

CN: Essas festas de família. Sempre é uma bagunça. Não sei por que tia Lauren não recebe as visitas em sua própria casa...
KN: Puts Charlotte, você está precisando de um namorado! As festas com todos são muito divertidas! – Karl disse e cutucou eu e Ricard. – Na última festa, tio Tony bebeu muito e fez strip-tease em cima da mesa. Foi hilário!

Eu gargalhei e Ricard arregalou os olhos assustado. Victor pigarreou começando a explicar.

VN: Claro que não terminou né? Papai o jogou em baixo do chuveiro gelado a tempo!
CN: Foi muito engraçado!!! Até vovô e vovó choraram de rir!

Ri imaginando a cena. O divertido não era pensar em atos assim. Era pensar nessa família, como um todo, comparada com a minha. Isso sim era bizarro!
Ficamos mais boas horas conversando até Maggie e Leví se despedirem para dormir e começarem com um efeito dominó. Em poucos minutos, todos subiam para seus quartos.

°°°

Tive a impressão de que tinha acabado de fechar os olhos quando senti um par de mãos me sacudindo. Acordei assustada e me sentei quando vi Victor de pijama ajoelhado ao lado da minha cama. Ele tapou minha boca para que eu não gritasse.

LD: Ta maluco?! O que aconteceu? – falei aos sussurros e Charlotte se mexeu na cama. Victor ficou olhando a irmã alarmado.
VN: Vem comigo.
LD: Onde?! Está tarde!
VN: Não vamos sair de casa. Quero te mostrar um lugar...

Ele respondeu ainda olhando Charlotte dormir. Eu me calcei e saímos do quarto de mãos dadas. A casa estava um silêncio profundo e em quase total escuridão. Descemos dois patamares de escadas e chegamos ao térreo. Entramos no escritório e Victor fechou a porta com cuidado, ligando a lamparina. Eu permanecia calada enquanto ele ia até a estante de livros e afastava uma coleção dos livros de feitiços que sua mãe havia escrito para o lado, e puxava uma alavanca atrás.
A estante se moveu para o lado, revelando um túnel escuro. Ele se virou para me olhar.

VN: Vamos!
LD: Para onde esse túnel leva, Vi?
VN: Você quer ver com seus próprios olhos, ou não?

Desisti de fazer perguntas. Segurei novamente a mão dele e entramos no túnel. Ele estendeu a lamparina na nossa frente. Era um túnel largo. O chão de madeira lustrosa e escura. E reparei que não era muito longo, pois não demorou muito e havíamos chegado ao final dele. Era uma sala retangular. A parede de frente era toda tomada por um grande aquário, e as outras possuíam quadros e fotos da família. Tinha uma mesa em um canto com uma máquina de escrever, vários pergaminhos e pastas empilhadas. E no outro canto, uma poltrona parecida com um divã, só que mais larga. Soltei um assovio.

LD: Caramba! Que máximo! Sua casa tem uma passagem secreta e uma sala secreta! – passei olhando os quadros e fotos.
VN: Aqui é onde minha mãe escrevia todos os livros... Eu adoro essa sala. Fico aqui horas fazendo os deveres durante as férias, pensando na vida...
LD: Muito agradável mesmo! – falei descontraída vendo a foto de Karl uns anos mais jovem, usando uma beca vermelha e estendendo satisfeito o diploma de Durmstrang. Sorri. Victor envolveu os braços na minha cintura e me deu um beijo no pescoço. Me virei rindo para ele lhe dando um beijo. – Sossega. Temos que ir dormir e além do mais, estamos na sua casa e...

Só que ele não me deu tempo de completar a frase e me deu outro beijo. E depois outro.

LD: Vi, é sério. Alguém pode acordar. – Tentava em vão fazer ele parar, mas ele continuava beijando minha orelha, meu pescoço, meu ombro. Me sacudi e consegui empurra-lo pra longe. – Sério! Vamos voltar!

Ele me olhou tremendamente impaciente, e me abraçou com mais força ainda, sorrindo.

VN: Estamos no meio da madrugada, todos da minha família estão dormindo, e há meses ninguém vem aqui além de mim! – disse abaixando uma das alças da minha blusa. Não pude deixar de sorrir.
LD: Mas e se...
VN: Lavínia, pelo amor de Merlin! Há quanto tempo não podemos ficar juntos? Você confia ou não em mim hein? Estou dizendo que ninguém vai nos ver aqui, nem perceber que saímos, agora será que dá para parar de me interromper???

Ele perguntou em tom definitivo. Ainda fiquei pensando em possibilidades mas vendo a insistência dele sorri o puxando e arrancando sua camiseta.

And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
Cause sooner or later it’s over
I just don’t want to miss you tonight

Goo goo dolls - Iris